terça-feira, 8 de março de 2011

Liberté


Será que alguem algum dia vai entender o porque que escolhi esta imagem?

Dias desses discutindo com amigos e até mesmo alguns desconhecidos na internet (a internet se mostra um excelente café/boteco filosófico às vezes com debates interessantes até) sobre o conceito de livre arbítrio. Papo vai papo vêm, alguns defendem que não existe a tal liberdade de escolha e outros defendem que quem pensa que não existe liberdade é algo semelhante a uma máquina, ou seja, sem vontade própria. De certo modo este ponto de vista está correto. Mas, vale lembrar que máquinas (surtando um pouco para o lado da ficção científica futurista) podem ser programadas para executar uma tarefa e achar que não estão fazendo tal ato ou estão fazendo por uma causa maior.

E pensando ainda nessa metáfora dos cyborgs é interessante notar a forma como as massas são manipuladas pelas elites para executar algum ato a “mando” desta elite. Muito longe de este texto ser um tratado marxista sobre lutas de classe, este pequeno e chato texto tem a intenção de mostrar de maneira rasa a forma como nós, população ralé é usada como maquinas para favorecer os interesses dos programadores. E é interessante notar que somos um tipo de máquina peculiar: somos programados para achar que somos livres.
Vamos primeiramente tratar do assunto relacionado à livre arbítrio. Que diabo seria isso? Pegando no pé da letra, o livre arbítrio seria a liberdade individual que cada um tem em decidir os destinos de sua vida (embora ninguém saiba o futuro, então todas as escolhas são tiros no escuro), partindo sempre do pré suposto maniqueísta entre escolhas boas e escolhas ruins (é interessante notar que até mesmo o conceito de bom e mal variam segundo o ponto de vista tanto do agente da ação quanto o receptor da ação ou até mesmo de olhares terceiros) que cada um vai tomando ao longo da vida. E como definir o que seria bom e o que seria ruim a seguir? Ai que vem o pulo do gato deste conceito: independente de quais escolhas for seguir, todas estarão margeadas por um código de conduta, leis ou tratados que determinam padrões a serem seguidos. Tais “códigos” podem ter um caráter ideológico político, econômico, religioso (este é o mais forte desde o nascimento de Yeshua (Jesus para os mais íntimos)), jurídico, comportamental e etc etc etc. 

Cada um deles na essência anula o conceito de liberdade de escolha. Ora, se eu sou livre para escolher o que é melhor para mim, então porque eu teria que escolher o melhor segundo uma norma? Liberdade de agir independente de qualquer lei ou conjunto de normas é algo impraticável até os dias atuais. É impraticável porque o ser humano não consegue viver tranquilamente sem um “norte” em sua vida; sem ter uma idéia, meta ou ideologia mediando seus atos e ações em vida. Talvez que por isso o comunismo e principalmente o anarquismo não saiam do papel e muito dificilmente irão sair futuramente. Mas ai vem alguém e fala: “ah, mas eu posso pensar por mim mesmo porque fiz isso e isso e isso sem ter ninguém ditando o que fazer, pensar ou achar certo ou errado.” Será mesmo? Será que todos os seus atos não são um reflexo do seu próprio tempo? Será que as escolhas que você supostamente escolheu não são algo já pré-determinado por uma força maior (sistema, deus, sociedade ou qualquer coisa que você queira chamar) que permitiu que você pudesse fazer tais opções de vida até chegar ao que é hoje?

Porque, pensemos: existe alguma forma de pensamento, ideologia ou comportamento social que seja solto no tempo e espaço? Por exemplo: seria possível existir sociedades ou agrupamentos “anarquistas” na Idade Média? Seria possível existir um regime político igualitário no capitalismo atual? Os homens que pensaram a frente de seu tempo realmente pensaram a frente de seu tempo ou apenas falaram o obvio que o meio social tentava manter por baixo dos panos?

Realmente são muitas perguntas a serem feitas e listei apenas algumas perguntas bobinhas, mas que às vezes escapam aos olhares dos eruditos quando vão tratar de liberdade individual. 

Na minha humilde opinião liberdade é um conceito que a humanidade jamais irá presenciar ou sequer chegar perto do que seria liberdade. Desde os confins dos tempos os homens são reflexos de seu próprio tempo, representando e sendo representado pelas tradições que seus antepassados lutaram para implantar para gerações futuras. O que eu sou, o que cada um é seria apenas um reflexo do que nossos pais, avós e bisavós deixaram como legado para nós e meus filhos, netos e tatatatatatataranetos serão ou sentirão o reflexo do que fizemos hoje.

Mas enfim, liberdade não existe. Principalmente no sistema capitalista a liberdade é um produto de consumo que ilude as massas onde esta pensa ser livre para ir e vir, consumir e traçar metas para sua vida, mas que na verdade estão presas a papeis pré-estabelecidos pelo sistema. Ora, porque os comunistas não conseguem derrubar de vez o capital? Porque eles representam a massa agressiva que se opõe ao poder do Estado/Capital, e este (o Estado/Capital) possui as “células brancas” contra o comunismo que seria a falsa noção de liberdade. Ora, basta pensarmos a obra de George Orwell, 1984, que faz uma caricatura de uma sociedade socialista e comparar com o padrão de vida do American Way of Life e ver qual tem mais liberdade de ser ou vir a ser. Vende-se a idéia do comunismo como o Satan do capital e vende-se o modo de vida americano como a salvação para todos, o paraíso terrestre, a verdadeira indulgencia dos pecados da carne, onde todos podem ser, vir a ser e consumir até tornar-se alguém livre quando crescer. Mas tudo isso não passa de teatro para as massas. A triste realidade é que somos todas máquinas pré-moldadas e pré-configuradas para acreditar e consumir o conceito de liberdade a qualquer custo e assim mover a maquina maior que é o Capital.

Na Idade Média, por exemplo, as máquinas eram configuradas para acreditarem que a liberdade dependia da vontade e Deus. Assim sendo, todas as máquinas deveriam seguir todo um complexo código de programação elaborado pelo grande Programador (lembram de Matrix Reload?) para conseguir chegar à liberdade post mortem. Ou se quisesse ser livre ainda em vida o mesmo poderia ser eliminado pelas demais máquinas por esta ser “livre demais”. 

Independente de qual tempo histórico e contexto sócio histórico que cada robozinho esteja inserido o mesmo acabará seguindo um conjunto de normas e instruções. A liberdade do homem será sempre maquiada em ideologias para se esconder a verdade: somos escravos do próprio sistema que criamos. As leis que criamos nos escravizam e ditam para nós mesmos o que devemos ser ou não. No capital, que é o sistema dominante atual, fora criado compartimentos de ilusões para cada tipo de liberdade, sendo esses pensamentos religiosos, revolucionários, sedentários, econômicos, políticos e etc. Nunca antes fora criado um sistema que conseguisse comportar todas as formas de pensar possíveis do ser humano e lidar com essas formas tão distintas de pensar sem sequer ameaçar a estrutura do Capital. Os conflitos, as guerras, as revoluções, as crises... tudo... tudo é um grande teatro que ao mesmo tempo cria a noção de uma liberdade possível e aprisiona todos que compram essa idéia de liberdade nestes casulos. Somos pegos como ratos que sentem o cheiro do queijo na ratoeira.

Então, o que fazer para quebrar com todo este sistema e realmente sentirmos o gostinho da Liberdade?

Nada! Não existe nada que se possa fazer para quebrar com esta forma de viver; não existe maneira de destruir o capital. Embora Marx tenha dito que o Capital irá ruir por si só ou pela ação dos trabalhadores, o mesmo nada mais foi do que uma marionete do próprio sistema. Marx criou uma válvula de escape (utopia) para manter os trabalhadores trabalhando e ao mesmo tempo sonhando com seus dias de sombra e água fresca. O capital, o sistema atual é impossível de ser destruído porque ele é a essência do próprio ser humano, ou seja, nós gostamos de aparecer, de ser mais que os outros, de ter tudo do bom e do melhor, de mandar, de sermos comandados, de podermos sonhar ainda que os sonhos sejam impossíveis e principalmente, gostamos de nos auto-iludirmos. 

E agora o que fazer?

Nada. Ignorância é uma benção.

Um comentário:

  1. Primeiro parabéns pelo texto e pela sua erudição exposta nele,é verdade a liberdade pareçe se um grande e imponente carro alegórico passando em nossa frente, onde os que nele ocupam sentem por instantes o doçe sabor de uma atraente e suposta ilusão, é tão engraçado perceber tais valores de liberdade em exemplos de revoluções no decorrer da História da Humanidade, tais ideiais senpre se mostram fortes vivos e pulsantes nos corações dos homens e mulheres dispostos a lutar pela derrubada de um determinado sistema ou pafrão de normas, mas o resultado se pareçe muito aquém do que foi proposto e pretendido e o impulso revolucionário acaba por se esvair e se esgotar das mãos dos revoltosos, é o poder classista dirigente acabará poe se impor sobre as massas, realmente a liberdade e o desejo de romper foi sempre algo útopico e muito pulveril.

    Terça - Feira
    23:50

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