É triste percebermos nas grandes massas o preconceito que existe contra o Heavy Metal. Se este preconceito diminuisse um pouco mais, perceberiamos que o HM é um movimento musical que influenciou algumas sociedades mundo a fora. Não devemos olhar o heavy metal com um olhar preconceituoso ou como sendo um simples movimento musical que nada interferiu no mundo, muitissimo pelo contrário, o heavy metal e seus subgêneros se alastraram pelo mundo impactano de alguma forma a sociedade, dando em alguns casos senso crítico aos seus fãs a ponto de criticar sua própria sociedade. Deveria-se estudar mais o heavy metal para que possamos entender algumas modificações em nossa sociedade que de forma direta ou indireta estão interligados.
Nesta pequena dissertação irei trabalhar a questão das mulheres dentro deste mundo, pois de certa maneira elas acabam passando desapercebidas em meio aos milhares de cabeludos que compõe o público geral. Quando se fala neste estilo de música é inegavel fazer as associações que já discutimos no outro post onde nos vem a cabeça à imagem de homens cabeludos vestidos com camisetas pretas, calças jeans justas, correntes e pulseiras com espinhos tocando uma música barulhenta. As mulheres, coitadas, de certa forma acabam sumindo na multidão, mas algumas acabam tomando destaque. Outra imagem que nos chega é que este estilo é um movimento extremamente machista, sexista e que prioriza e valoriza a imagem do homem como um ser dominante. Mas será que é isso mesmo? Para responder a essa pergunta primeiro devemos entender como que a imagem do homem é construída dentro desse mundo e como as mulheres se enquadram nesse “padrão de masculinidade” e se fogem desse padrão, como elas são vistas pelos demais fãs e membros desse mundo. Não façamos aqui uma “História das Mulheres Metalleras” ou algo do gênero, mas sim uma breve discussão de como que a mulher consegue se relacionar nesse meio e como ela vem ganhando seu espaço dentro do metal e tentar ver este outro lado da história curiosa do HM.
O heavy metal é visto por alguns grupos da sociedade como algo a ser evitado. Para eles é um mundo estranho, pervertido, violento, drogado e machista ao extremo dentre tantas outras alegações escusas que não vem ao caso. Em grande parte essas visões do metal são preconceituosas, mas por outro lado o metal “fez por onde” ganhar essa má fama que acabou conservando essa visão/estereotipação. Mas, até onde essa imagem estereotipada chega à realidade do mundo do metal? Como é de fato construída a imagem do homem metallero/headbanguer/metalhead?
Faço aqui uma observação importante: devemos analisar cada caso de forma separada e sem se esquecer a qual movimento ou subgênero o objeto de analise está inserido, pois, assim como a musicalidade muda de subgênero para subgênero, o comportamento e as indumentárias também variam e em alguns casos chegam a variações extremas. E também temos que levar em consideração a proposta artística e temática que o objeto da analise deseja expor. Pensando assim pode se fazer toda uma analise do metal ou de um subgênero sobre qualquer questão que se queira trabalhar. No caso, a discussão de gênero também se torna possível, mas, lembrando sempre dessa peculiaridade que o metal possui.
Antes de entrar na questão do machismo ou suposto machismo que o metal está exposto ou pré suposto devemos entender como que se dá a concepção e construção do homem fã de metal. Devemos entender primeiramente como que se constrói a imagem do homem inserido no mundo do metal. Devemos entender alguns por menores dessa construção da imagem e da visão tanto interna quanto externa do homem dentro do metal.
Para começarmos devemos entender alguns meios que podem ser utilizados para criar ou expandir um conceito de masculinidade. Normalmente movimentos ligados a musica ou a culturas de massa de forma geral têm como grande difusor de idéias e ideais a mídia. O metal não escapa a essa realidade. Podemos afirmar então que grande parte das construções do masculino que circundam o metal tem como meio de expansão ou divulgação a mídia.
Mas como a imagem do masculino é construída?
Podemos levantar algumas hipóteses sobre essa construção do masculino ou do homem dentro do heavy metal. Primeiramente podemos citar como forma de construção dessa identidade de gênero a própria sociedade ao qual o objeto está incluso, ou seja, toda a bagagem que ele possui de sua criação e formação de seu gênero provem do meio ao qual foi criado. Se ele se identifica como homem é porque ele foi, de certa forma, foi educado a se comportar como os homens, ou melhor, comportarem-se como os demais indivíduos do sexo masculino se comportam naquele meio social. Entender a identificação de gênero por essa visão seria entender o gênero pelo tema proposto pela norte-americana Joan Scott onde a autora no seu artigo Gênero: Uma categoria útil para a análise histórica diz que “o gênero se torna, aliás, uma maneira de indicar as “construções sociais”: a criação inteiramente social das idéias sobre os papeis próprios aos homens e às mulheres.” (SCOTT, 2009 p.4)
Outra possível forma de entender como a imagem do homem, ou melhor, como o gênero masculino é construído dentro do heavy metal seria analisar o comportamento dos homens. Normalmente o heavy metal e alguns de seus subgêneros são tidos como agressivos, violentos, raivosos e até mesmo brutais, ou seja, são sentimentos tidos por nossa sociedade ocidental como sendo atitudes comportamentais do homem (não que a mulher não exponha tais sentimentos, pois ela também é capaz de sentir e expor tais sentimentos de forma tão ou mais intensa quanto o homem). O homem é construído então por se comportar ou se identificar com comportamentos dos homens da sua sociedade e por expor sua agressividade ouvindo ou assistindo a um concerto de metal.
Essa agressividade que existe dentro do metal é de certa forma (lembrando sempre do subgênero do metal cujo objeto está inserido) exposta nos concertos de metal. Ela é exposta ou exaurida no chamado “bate-cabeça” onde os fãs balançam suas cabeças segundo o ritmo rápido da banda demarcado principalmente pela bateria. Outra forma seria nas rodas punks ou pits onde forma-se uma roda no meio da platéia e os fãs vão de encontro um contra os outros dando socos, pontapés e empurrões. Outra forma de demonstrar essa agressividade seria nas próprias letras compostas pelas bandas onde essas demonstram sua revolta e agressividade com relação ou utilizando algum/alguma tema/temática.
Essa agressividade que predomina de certa forma no mundo do metal pode ser interligada a outra forma de identificação do gênero masculino, a força.
Algumas bandas de metal utilizam como temáticas de suas musicas o período do medieval fantástico ou musicas de batalhas. Podemos citar como subgênero para ilustrar essa afirmação o Power Metal, War Metal, Thrash Metal, Black Metal e o Viking Metal. Uma banda onde este quesito é bem evidente é na banda Manowar. A banda trabalha com essa questão de batalhas, guerras, guerreiros e “sobrevivência do mais forte”. O Manowar demonstra mais essa exaltação dos músculos e da força com seu visual de guerreiros bárbaros ao estilo Conam. Pode-se perceber na mascote da banda Manowar e até mesmo na capa do primeiro disco da banda essa exaltação plena da força e dos músculos. De certa forma, na sociedade ocidental a questão da força e dos músculos está co-relacionada com a identificação do gênero masculino. No documentário Metal – A headbanger’s jorney a socióloga Deena Weinstein fala em sua entrevista sobre essa questão:
“É uma música muito forte sonoramente e se supõe que seja forte. Você não resplandeceria terrivelmente forte, mas, você sabe, nos ônibus, durante as turnês, os caras exercitam seus músculos com pesos, antes de subir ao palco. Então a força é um dos elementos. Mas também usar ferramentas, muito efetivamente, é outra parte desse pensamento masculino da classe operária.” (WEINSTEIN, 2006)
Veja algumas capas de álbuns da banda Manowar:
Normalmente as vestimentas deveriam contribuir para essa questão de identificação do masculino. Mas no heavy metal essa questão é bastante complexa. Não existe um padrão delimitador de roupagens masculinas ou femininas. É difícil falar em divisão de gêneros ou identificação do mesmo usando simplesmente as roupas e acessórios, pois os mesmos servem para ambos os sexos.
Para entender como essa questão de divisão de gênero por roupas é difícil vejamos a questão do Glam Metal. No Glam Metal tanto os fãs quanto os ídolos ( e isso é mais os ídolos) trajam vestimentas tidas como femininas como maiô, sutiãs, calcinhas, espartilhos, lenços, óculos, pulseiras, perucas e maquiagem. Algumas bandas desse estilo como o Twisted Sister, Motley Crue ou Poison poderiam ser considerados gays ou bandas femininas se pegarmos apenas as suas vestimentas e isso na realidade não procede. O fato dessas bandas pertencentes a este estilo se trajarem com roupas femininas seria mais uma critica a masculinidade exarcebada existente dentro do metal ou uma hiper-masculinidade, uma reafirmação da masculinidade.
Por outro lado as mulheres em algumas bandas ou em alguns estilos dos subgêneros do metal trajam roupas tidas pelo meio comum como sendo de homens. Essas mulheres em alguns casos trajam camisetas pretas, calças compridas, coturnos e acessórios tidos como de homens. Em relação a sexualidade as roupas também não dizem muito. Por exemplo, as bandas acima citadas como Twisted Sister, Poison e Motley Crue quando analisadas friamente logo vem a mente que eles são gays sendo que de fato não o são baseado no pré suposto do histórico dos membros dessas bandas onde alguns são casados e com filhos ou possuem um “histórico sexual” bem fora dos padrões. Agora, se pegarmos o Judas Priest que possui como “front-man” Rob Halford, analisando friamente não concluiríamos que ele é homossexual, pois suas atitudes em cima do palco não condiz com o que “esperamos” das atitudes de um homossexual. Ele traja durante os shows roupas típicas de barman’s gays (colete de couro, calça comprida colada, quepe de couro, pulseiras de couro e óculos escuros).
Como podemos ver, as vestimentas pelo menos dentro do mundo do metal não é um “identificador” de gênero masculino ou feminino. Elas podem identificar a qual subgênero determinado individuo se enquadra, mas na questão de gênero e sexualidade as vestimentas não ajudam muito.
Vejam algumas representações de algumas bandas de Glam Metal e do Rob Halford.
Twister Sister
Poison
Rob Halford (Judas Priest)
Como dito anteriormente tínhamos que saber como que era construída a imagem do homem para que depois pudéssemos discutir a questão da mulher dentro do metal. Nessa discussão sobre a representação do homem e como ele se relaciona e se identifica como gênero masculino dentro do metal pode-se perceber que existe uma série de fatores dentre os quais podemos destacar como os principais determinantes do gênero masculino no metal: a própria sociedade, a agressividade e a idéia de força. As roupas que eram tidas por muitos, um dos fatores que poderiam determinar essa divisão de gêneros, praticamente nada interferem ou nada concluem sobre o gênero do individuo a ser analisado. Elas são simplesmente adereços ou constituem os adornos de um personagem em cima dos palcos.
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