segunda-feira, 11 de abril de 2011

2012 e o fim de um mundo



Muito se tem falado nos meios de comunicação sobre a profecia maia do fim do mundo em 21/12/2012. Vários teóricos da conspiração e do apocalipse falam que neste período a Terra irá ser destruída por catástrofes naturais, ou pela ira de Deus ou até mesmo por uma conspiração global arquitetada por uma seita ultra-secreta chamada Illuminati. Existem por tanto inúmeras teorias que falam desta data fatídica e o possível fim dos tempos. Basta dar uma googlada e perceber a vastidão de teorias que existem a cerca deste tema.

Então aqui eu lanço a minha teoria. Não uma teoria lunática sobre conspirações bizarras de ricos e poderosos ou uma conspiração divina ou até mesmo algum evento cataclismo natural. Não. Mas falo de destruição. Que destruição? A destruição do mundo como o conhecemos.

Ah, mas como assim a destruição do mundo como o conhecemos? Pessoas irão morrer neste processo? Alguma coisa vai cair sobre nós? Guerras vão ocorrer? O que faremos? Correremos para as colinas?

Não. Talvez algumas mortes ocorram neste processo como vem ocorrendo desde que o homem é homem e algumas guerras possam até ocorrer. Mas minha teoria tem mais haver com as mudanças que vem ocorrendo no mundo. Tais mudanças podem ser percebidas no nosso próprio dia-a-dia. No quadro brasileiro por exemplo, o povo no processo de eleição acabou escolhendo uma candidata mulher (algo totalmente inédito na história política brasileira), vinda das classes trabalhadoras, partidária de um partido (supostamente) da esquerda e uma rebelde do Regime Militar. Isso em períodos passados da nossa história política era algo inimaginável. Quem iria pensar em colocar a oposição no governo, uma ex rebelde que lutou contra as elites e ainda por cima mulher? Esta é uma mudança um tanto quanto interessante para pensarmos o quadro político brasileiro. 

Na escala mais global, podemos pensar o Obama. Quem um dia iria imaginar que os EUA seria governado por um negro? Isso só ocorria em filmes apocalípticos de Hollywood. Os EUA sendo um país racista declarado como ele é, tem no cargo chefe um negro. Os racistas conservadores do Texas devem se corroer de raiva ao pensar que devem obrigações civis a um negro. E no Oriente Médio estamos vendo um momento histórico que será analisado futuramente nos livros didáticos em quase todas as escolas do mundo. O que ocorre lá é uma revolução, onde a população cansou de ser explorada por “sheiks” e famílias do petróleo e agora exigem a democracia. Ditaduras de 30, 40 anos ou até mesmo secular agora estão sofrendo a pressão dos populares que exigem a troca periódica de seus governantes. Isso provavelmente era algo impensável em qualquer passado histórico do próprio islamismo ou cultura árabe (desculpe a generalização).

No campo social vemos as minorias lutando pelo direito a igualdade e a aceitação da maioria. Negros, homossexuais, religiosos, indígenas, crianças, jovens, idosos, imigrantes e etc lutam diariamente para que as sociedades aceitem suas diferenças. É claro que alguns desses movimentos começaram um pouco mais atrás na história, mas só agora suas lutas constantes vem surtindo efeito no campo político e social de maneira considerável. Padrões, tabus, preconceitos, conceitos e outros ranços político-sociais vêm caindo constamente. Até mesmo o padrão de família modelo anda mudando deixando de ser apenas o casal branquinho, cristão, com dois ou três filinhos e heterossexuais. Hoje existem casais “interraciais”, casais homossexuais e casas comandadas ou pelo homem ou pela mulher ou casas comandadas por casais separados. Enfim, está ocorrendo uma mudança de paradigma e conceitos em escala global.

Mas nem tudo é um mar de rosas. Com tais mudanças, novas problemáticas e novos desafios irão aparecer para que os governos futuros tentem resolver para que tente agradar o máximo possível ambas as partes. É evidente que é impossível agradar a gregos e troianos, mas caminhamos talvez para uma maior aceitação do diferente. O problema disso tudo está na velocidade em que isso ocorre. Claro que devemos ver o negro como um ser humano que ele é, o homossexual, o imigrante e etc etc etc etc, afinal todos são seres humanos como nós. 

O problema da velocidade é como que as coisas andam corridas ultimamente. O mundo anda cada vez mais rápido, conciso e priorizando apenas a informação necessária que parece que as coisas andam ficando quase que mecanizadas. A velocidade das informações e a exploração que a mídia faz de alguma temática faz com que as coisas acabem perdendo o seu valor ou a sua razão. Atualmente uma tragédia vira palco para uma exaustante e desumana exploração dos ocorridos, onde a individualidade dos afetados é praticamente anulada e usada como comercio. Ou seja, a dor está virando mercadoria nessa mudança toda. E isso não é bom, pois se perdermos a noção do que é uma perda pessoal (um parente ou um amigo) acabamos por banalizar o próprio sentido de perda, onde o ser acaba sendo apenas um objeto que você poderá destruir sem dor na consciência alguma. E o nazismo mostrou claramente que isso não é um caminho viável ou saudável para as relações sociais.  As coisas andam mudando numa velocidade em que não podemos mais acompanhar.

Enfim, o que essa papagaiada toda tem haver com 2012?

Talvez os Maias estivessem certos com o fim do mundo. O mundo realmente anda se destruído a cada dia que passa. Não é um discurso conservador e está muito longe de ser. O mundo anda mudando. A destruição que estamos vendo está fazendo a humanidade caminhar para um futuro incerto e que muito possivelmente terá padrões de vida totalmente diferentes dos atuais. Os conceitos políticos irão mudar drasticamente, as relações sociais, os padrões de vida, os conceitos, preconceitos e desafios serão diferentes. Estamos numa mudança de século. Se o século XX foi a destruição total ou a resolução das intrigas do século XIX, o século XXI parece ser um período de reformulação e desapego com os padrões e resquícios do século XIX e XX.

Será que os Maias com seu misticismo todo conseguiram prever uma era de mudanças tão drásticas no mundo que algumas pessoas interpretam isso como um período apocalíptico? Ou as mudanças ocorreram naturalmente e tudo não passa de uma grande coincidência?

De todo modo é como os antigos dizem: quem viver verá!

terça-feira, 8 de março de 2011

Liberté


Será que alguem algum dia vai entender o porque que escolhi esta imagem?

Dias desses discutindo com amigos e até mesmo alguns desconhecidos na internet (a internet se mostra um excelente café/boteco filosófico às vezes com debates interessantes até) sobre o conceito de livre arbítrio. Papo vai papo vêm, alguns defendem que não existe a tal liberdade de escolha e outros defendem que quem pensa que não existe liberdade é algo semelhante a uma máquina, ou seja, sem vontade própria. De certo modo este ponto de vista está correto. Mas, vale lembrar que máquinas (surtando um pouco para o lado da ficção científica futurista) podem ser programadas para executar uma tarefa e achar que não estão fazendo tal ato ou estão fazendo por uma causa maior.

E pensando ainda nessa metáfora dos cyborgs é interessante notar a forma como as massas são manipuladas pelas elites para executar algum ato a “mando” desta elite. Muito longe de este texto ser um tratado marxista sobre lutas de classe, este pequeno e chato texto tem a intenção de mostrar de maneira rasa a forma como nós, população ralé é usada como maquinas para favorecer os interesses dos programadores. E é interessante notar que somos um tipo de máquina peculiar: somos programados para achar que somos livres.
Vamos primeiramente tratar do assunto relacionado à livre arbítrio. Que diabo seria isso? Pegando no pé da letra, o livre arbítrio seria a liberdade individual que cada um tem em decidir os destinos de sua vida (embora ninguém saiba o futuro, então todas as escolhas são tiros no escuro), partindo sempre do pré suposto maniqueísta entre escolhas boas e escolhas ruins (é interessante notar que até mesmo o conceito de bom e mal variam segundo o ponto de vista tanto do agente da ação quanto o receptor da ação ou até mesmo de olhares terceiros) que cada um vai tomando ao longo da vida. E como definir o que seria bom e o que seria ruim a seguir? Ai que vem o pulo do gato deste conceito: independente de quais escolhas for seguir, todas estarão margeadas por um código de conduta, leis ou tratados que determinam padrões a serem seguidos. Tais “códigos” podem ter um caráter ideológico político, econômico, religioso (este é o mais forte desde o nascimento de Yeshua (Jesus para os mais íntimos)), jurídico, comportamental e etc etc etc. 

Cada um deles na essência anula o conceito de liberdade de escolha. Ora, se eu sou livre para escolher o que é melhor para mim, então porque eu teria que escolher o melhor segundo uma norma? Liberdade de agir independente de qualquer lei ou conjunto de normas é algo impraticável até os dias atuais. É impraticável porque o ser humano não consegue viver tranquilamente sem um “norte” em sua vida; sem ter uma idéia, meta ou ideologia mediando seus atos e ações em vida. Talvez que por isso o comunismo e principalmente o anarquismo não saiam do papel e muito dificilmente irão sair futuramente. Mas ai vem alguém e fala: “ah, mas eu posso pensar por mim mesmo porque fiz isso e isso e isso sem ter ninguém ditando o que fazer, pensar ou achar certo ou errado.” Será mesmo? Será que todos os seus atos não são um reflexo do seu próprio tempo? Será que as escolhas que você supostamente escolheu não são algo já pré-determinado por uma força maior (sistema, deus, sociedade ou qualquer coisa que você queira chamar) que permitiu que você pudesse fazer tais opções de vida até chegar ao que é hoje?

Porque, pensemos: existe alguma forma de pensamento, ideologia ou comportamento social que seja solto no tempo e espaço? Por exemplo: seria possível existir sociedades ou agrupamentos “anarquistas” na Idade Média? Seria possível existir um regime político igualitário no capitalismo atual? Os homens que pensaram a frente de seu tempo realmente pensaram a frente de seu tempo ou apenas falaram o obvio que o meio social tentava manter por baixo dos panos?

Realmente são muitas perguntas a serem feitas e listei apenas algumas perguntas bobinhas, mas que às vezes escapam aos olhares dos eruditos quando vão tratar de liberdade individual. 

Na minha humilde opinião liberdade é um conceito que a humanidade jamais irá presenciar ou sequer chegar perto do que seria liberdade. Desde os confins dos tempos os homens são reflexos de seu próprio tempo, representando e sendo representado pelas tradições que seus antepassados lutaram para implantar para gerações futuras. O que eu sou, o que cada um é seria apenas um reflexo do que nossos pais, avós e bisavós deixaram como legado para nós e meus filhos, netos e tatatatatatataranetos serão ou sentirão o reflexo do que fizemos hoje.

Mas enfim, liberdade não existe. Principalmente no sistema capitalista a liberdade é um produto de consumo que ilude as massas onde esta pensa ser livre para ir e vir, consumir e traçar metas para sua vida, mas que na verdade estão presas a papeis pré-estabelecidos pelo sistema. Ora, porque os comunistas não conseguem derrubar de vez o capital? Porque eles representam a massa agressiva que se opõe ao poder do Estado/Capital, e este (o Estado/Capital) possui as “células brancas” contra o comunismo que seria a falsa noção de liberdade. Ora, basta pensarmos a obra de George Orwell, 1984, que faz uma caricatura de uma sociedade socialista e comparar com o padrão de vida do American Way of Life e ver qual tem mais liberdade de ser ou vir a ser. Vende-se a idéia do comunismo como o Satan do capital e vende-se o modo de vida americano como a salvação para todos, o paraíso terrestre, a verdadeira indulgencia dos pecados da carne, onde todos podem ser, vir a ser e consumir até tornar-se alguém livre quando crescer. Mas tudo isso não passa de teatro para as massas. A triste realidade é que somos todas máquinas pré-moldadas e pré-configuradas para acreditar e consumir o conceito de liberdade a qualquer custo e assim mover a maquina maior que é o Capital.

Na Idade Média, por exemplo, as máquinas eram configuradas para acreditarem que a liberdade dependia da vontade e Deus. Assim sendo, todas as máquinas deveriam seguir todo um complexo código de programação elaborado pelo grande Programador (lembram de Matrix Reload?) para conseguir chegar à liberdade post mortem. Ou se quisesse ser livre ainda em vida o mesmo poderia ser eliminado pelas demais máquinas por esta ser “livre demais”. 

Independente de qual tempo histórico e contexto sócio histórico que cada robozinho esteja inserido o mesmo acabará seguindo um conjunto de normas e instruções. A liberdade do homem será sempre maquiada em ideologias para se esconder a verdade: somos escravos do próprio sistema que criamos. As leis que criamos nos escravizam e ditam para nós mesmos o que devemos ser ou não. No capital, que é o sistema dominante atual, fora criado compartimentos de ilusões para cada tipo de liberdade, sendo esses pensamentos religiosos, revolucionários, sedentários, econômicos, políticos e etc. Nunca antes fora criado um sistema que conseguisse comportar todas as formas de pensar possíveis do ser humano e lidar com essas formas tão distintas de pensar sem sequer ameaçar a estrutura do Capital. Os conflitos, as guerras, as revoluções, as crises... tudo... tudo é um grande teatro que ao mesmo tempo cria a noção de uma liberdade possível e aprisiona todos que compram essa idéia de liberdade nestes casulos. Somos pegos como ratos que sentem o cheiro do queijo na ratoeira.

Então, o que fazer para quebrar com todo este sistema e realmente sentirmos o gostinho da Liberdade?

Nada! Não existe nada que se possa fazer para quebrar com esta forma de viver; não existe maneira de destruir o capital. Embora Marx tenha dito que o Capital irá ruir por si só ou pela ação dos trabalhadores, o mesmo nada mais foi do que uma marionete do próprio sistema. Marx criou uma válvula de escape (utopia) para manter os trabalhadores trabalhando e ao mesmo tempo sonhando com seus dias de sombra e água fresca. O capital, o sistema atual é impossível de ser destruído porque ele é a essência do próprio ser humano, ou seja, nós gostamos de aparecer, de ser mais que os outros, de ter tudo do bom e do melhor, de mandar, de sermos comandados, de podermos sonhar ainda que os sonhos sejam impossíveis e principalmente, gostamos de nos auto-iludirmos. 

E agora o que fazer?

Nada. Ignorância é uma benção.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

E assim se fez o homem



























É triste percebermos nas grandes massas o preconceito que existe contra o Heavy Metal. Se este preconceito diminuisse um pouco mais, perceberiamos que o HM é um movimento musical que influenciou algumas sociedades mundo a fora. Não devemos olhar o heavy metal com um olhar preconceituoso ou como sendo um simples movimento musical que nada interferiu no mundo, muitissimo pelo contrário, o heavy metal e seus subgêneros se alastraram pelo mundo impactano de alguma forma a sociedade, dando em alguns casos senso crítico aos seus fãs a ponto de criticar sua própria sociedade. Deveria-se estudar mais o heavy metal para que possamos entender algumas modificações em nossa sociedade que de forma direta ou indireta estão interligados.

Nesta pequena dissertação irei trabalhar a questão das mulheres dentro deste mundo, pois de certa maneira elas acabam passando desapercebidas em meio aos milhares de cabeludos que compõe o público geral. Quando se fala neste estilo de música é inegavel fazer as associações que já discutimos no outro post onde nos vem a cabeça à imagem de homens cabeludos vestidos com camisetas pretas, calças jeans justas, correntes e pulseiras com espinhos tocando uma música barulhenta. As mulheres, coitadas, de certa forma acabam sumindo na multidão, mas algumas acabam tomando destaque. Outra imagem que nos chega é que este estilo é um movimento extremamente machista, sexista e que prioriza e valoriza a imagem do homem como um ser dominante. Mas será que é isso mesmo? Para responder a essa pergunta primeiro devemos entender como que a imagem do homem é construída dentro desse mundo e como as mulheres se enquadram nesse “padrão de masculinidade” e se fogem desse padrão, como elas são vistas pelos demais fãs e membros desse mundo. Não façamos aqui uma “História das Mulheres Metalleras” ou algo do gênero, mas sim uma breve discussão de como que a mulher consegue se relacionar nesse meio e como ela vem ganhando seu espaço dentro do metal e tentar ver este outro lado da história curiosa do HM. 

O heavy metal é visto por alguns grupos da sociedade como algo a ser evitado. Para eles é um mundo estranho, pervertido, violento, drogado e machista ao extremo dentre tantas outras alegações escusas que não vem ao caso. Em grande parte essas visões do metal são preconceituosas, mas por outro lado o metal “fez por onde” ganhar essa má fama que acabou conservando essa visão/estereotipação. Mas, até onde essa imagem estereotipada chega à realidade do mundo do metal? Como é de fato construída a imagem do homem metallero/headbanguer/metalhead?

Faço aqui uma observação importante: devemos analisar cada caso de forma separada e sem se esquecer a qual movimento ou subgênero o objeto de analise está inserido, pois, assim como a musicalidade muda de subgênero para subgênero, o comportamento e as indumentárias também variam e em alguns casos chegam a variações extremas. E também temos que levar em consideração a proposta artística e temática que o objeto da analise deseja expor. Pensando assim pode se fazer toda uma analise do metal ou de um subgênero sobre qualquer questão que se queira trabalhar. No caso, a discussão de gênero também se torna possível, mas, lembrando sempre dessa peculiaridade que o metal possui.

Antes de entrar na questão do machismo ou suposto machismo que o metal está exposto ou pré suposto devemos entender como que se dá a concepção e construção do homem fã de metal. Devemos entender primeiramente como que se constrói a imagem do homem inserido no mundo do metal. Devemos entender alguns por menores dessa construção da imagem e da visão tanto interna quanto externa do homem dentro do metal.

Para começarmos devemos entender alguns meios que podem ser utilizados para criar ou expandir um conceito de masculinidade. Normalmente movimentos ligados a musica ou a culturas de massa de forma geral têm como grande difusor de idéias e ideais a mídia. O metal não escapa a essa realidade. Podemos afirmar então que grande parte das construções do masculino que circundam o metal tem como meio de expansão ou divulgação a mídia. 

Mas como a imagem do masculino é construída?

Podemos levantar algumas hipóteses sobre essa construção do masculino ou do homem dentro do heavy metal. Primeiramente podemos citar como forma de construção dessa identidade de gênero a própria sociedade ao qual o objeto está incluso, ou seja, toda a bagagem que ele possui de sua criação e formação de seu gênero provem do meio ao qual foi criado. Se ele se identifica como homem é porque ele foi, de certa forma, foi educado a se comportar como os homens, ou melhor, comportarem-se como os demais indivíduos do sexo masculino se comportam naquele meio social. Entender a identificação de gênero por essa visão seria entender o gênero pelo tema proposto pela norte-americana Joan Scott onde a autora no seu artigo Gênero: Uma categoria útil para a análise histórica diz que “o gênero se torna, aliás, uma maneira de indicar as “construções sociais”: a criação inteiramente social das idéias sobre os papeis próprios aos homens e às mulheres.” (SCOTT, 2009 p.4)

Outra possível forma de entender como a imagem do homem, ou melhor, como o gênero masculino é construído dentro do heavy metal seria analisar o comportamento dos homens. Normalmente o heavy metal e alguns de seus subgêneros são tidos como agressivos, violentos, raivosos e até mesmo brutais, ou seja, são sentimentos tidos por nossa sociedade ocidental como sendo atitudes comportamentais do homem (não que a mulher não exponha tais sentimentos, pois ela também é capaz de sentir e expor tais sentimentos de forma tão ou mais intensa quanto o homem). O homem é construído então por se comportar ou se identificar com comportamentos dos homens da sua sociedade e por expor sua agressividade ouvindo ou assistindo a um concerto de metal. 

Essa agressividade que existe dentro do metal é de certa forma (lembrando sempre do subgênero do metal cujo objeto está inserido) exposta nos concertos de metal. Ela é exposta ou exaurida no chamado “bate-cabeça” onde os fãs balançam suas cabeças segundo o ritmo rápido da banda demarcado principalmente pela bateria. Outra forma seria nas rodas punks ou pits onde forma-se uma roda no meio da platéia e os fãs vão de encontro um contra os outros dando socos, pontapés e empurrões. Outra forma de demonstrar essa agressividade seria nas próprias letras compostas pelas bandas onde essas demonstram sua revolta e agressividade com relação ou utilizando  algum/alguma tema/temática.

Essa agressividade que predomina de certa forma no mundo do metal pode ser interligada a outra forma de identificação do gênero masculino, a força.

Algumas bandas de metal utilizam como temáticas de suas musicas o período do medieval fantástico ou musicas de batalhas. Podemos citar como subgênero para ilustrar essa afirmação o Power Metal, War Metal, Thrash Metal, Black Metal e o Viking Metal. Uma banda onde este quesito é bem evidente é na banda Manowar. A banda trabalha com essa questão de batalhas, guerras, guerreiros e “sobrevivência do mais forte”. O Manowar demonstra mais essa exaltação dos músculos e da força com seu visual de guerreiros bárbaros ao estilo Conam. Pode-se perceber na mascote da banda Manowar e até mesmo na capa do primeiro disco da banda essa exaltação plena da força e dos músculos. De certa forma, na sociedade ocidental a questão da força e dos músculos está co-relacionada com a identificação do gênero masculino. No documentário Metal – A headbanger’s jorney a socióloga Deena Weinstein fala em sua entrevista sobre essa questão:

“É uma música muito forte sonoramente e se supõe que seja forte. Você não resplandeceria terrivelmente forte, mas, você sabe, nos ônibus, durante as turnês, os caras exercitam seus músculos com pesos, antes de subir ao palco. Então a força é um dos elementos. Mas também usar ferramentas, muito efetivamente, é outra parte desse pensamento masculino da classe operária.” (WEINSTEIN, 2006)

Veja algumas capas de álbuns da banda Manowar:



Normalmente as vestimentas deveriam contribuir para essa questão de identificação do masculino. Mas no heavy metal essa questão é bastante complexa. Não existe um padrão delimitador de roupagens masculinas ou femininas. É difícil falar em divisão de gêneros ou identificação do mesmo usando simplesmente as roupas e acessórios, pois os mesmos servem para ambos os sexos. 

Para entender como essa questão de divisão de gênero por roupas é difícil vejamos a questão do Glam Metal. No Glam Metal tanto os fãs quanto os ídolos ( e isso é mais os ídolos) trajam vestimentas tidas como femininas como maiô, sutiãs, calcinhas, espartilhos, lenços, óculos, pulseiras, perucas e maquiagem. Algumas bandas desse estilo como o Twisted Sister, Motley Crue ou Poison poderiam ser considerados gays ou bandas femininas se pegarmos apenas as suas vestimentas e isso na realidade não procede. O fato dessas bandas pertencentes a este estilo se trajarem com roupas femininas seria mais uma critica a masculinidade exarcebada existente dentro do metal ou uma hiper-masculinidade, uma reafirmação da masculinidade.
Por outro lado as mulheres em algumas bandas ou em alguns estilos dos subgêneros do metal trajam roupas tidas pelo meio comum como sendo de homens. Essas mulheres em alguns casos trajam camisetas pretas, calças compridas, coturnos e acessórios tidos como de homens. Em relação a sexualidade as roupas também não dizem muito. Por exemplo, as bandas acima citadas como Twisted Sister, Poison e Motley Crue quando analisadas friamente logo vem a mente que eles são gays sendo que de fato não o são baseado no pré suposto do histórico dos membros dessas bandas onde alguns são casados e com filhos ou possuem um “histórico sexual” bem fora dos padrões. Agora, se pegarmos o Judas Priest que possui como “front-man” Rob Halford, analisando friamente não concluiríamos que ele é homossexual, pois suas atitudes em cima do palco não condiz com o que “esperamos” das atitudes de um homossexual. Ele traja durante os shows roupas típicas de barman’s gays (colete de couro, calça comprida colada, quepe de couro, pulseiras de couro e óculos escuros).

Como podemos ver, as vestimentas pelo menos dentro do mundo do metal não é um “identificador” de gênero masculino ou feminino. Elas podem identificar a qual subgênero determinado individuo se enquadra, mas na questão de gênero e sexualidade as vestimentas não ajudam muito. 

Vejam algumas representações de algumas bandas de Glam Metal e do Rob Halford.

Twister Sister


Poison


Rob Halford (Judas Priest)


Como dito anteriormente tínhamos que saber como que era construída a imagem do homem para que depois pudéssemos discutir a questão da mulher dentro do metal. Nessa discussão sobre a representação do homem e como ele se relaciona e se identifica como gênero masculino dentro do metal pode-se perceber que existe uma série de fatores dentre os quais podemos destacar como os principais determinantes do gênero masculino no metal: a própria sociedade, a agressividade e a idéia de força. As roupas que eram tidas por muitos, um dos fatores que poderiam determinar essa divisão de gêneros, praticamente nada interferem ou nada concluem sobre o gênero do individuo a ser analisado. Elas são simplesmente adereços ou constituem os adornos de um personagem em cima dos palcos.

  As hipoteses aqui expostas são apenas para mentalizarmos um pouco e tentarmos ver o quão complexo é trabalhar com este tema. Logo logo volto com outra postagem falando das mulheres dentro do heavy metal. Aguardem!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Vôo de Icaro


 Enquanto houver garotos chateados o heavy metal continuará existindo. -OZZY OSBOURNE

Nunca na história musical mundial até agora houve um estilo musical tão controverso e envolto em polêmicas quanto o heavy metal. As polêmicas envolvendo fãs, artistas, drogas, bebidas, mortes, satanismo e desobediência civil sempre foram à marca registrada preconceituosa do Heavy Metal. Surgido pela junção do hard rock, blues, rock n’ roll e jazz no Reino Unido e logo depois se espalhando pelo mundo, o Heavy Metal já inicia sua “carreira” em volto de polêmicas. 

A primeira banda a se ter noticia de tocar metal é o Black Sabbath, que surgiu numa zona operaria de Birmingham, próximo a Londres em 1968. Já no inicio da carreira o Black Sabbath já encontrou resistência dos conservadores religiosos que viam em seu som denso, pesado, sombrio e até mesmo satânico (devido as musicas N.I.B e Black Sabbath do primeiro álbum da banda) uma ameaça aos jovens e seus valores cristãos de boa convivência. Além do Sabbath mais duas bandas surgiram no Reino Unido formando assim a “trindade do metal”, e são elas: Deep Purple (embora exista inúmeras divergências entre críticos e estudiosos do estilo que afirmam que o DP apenas fazia um hard rock no inicio de carreira, outros falam hard core e outros as primeiras pegadas de heavy metal) e Led Zeppelin. Estas bandas não tardaram muito a se tornarem populares no Reino Unido, Europa e América e daí o resto do planeta. 

Sempre quando falamos em Heavy Metal logo associamos a imagem de homens cabeludos vestidos com camisetas pretas, calças jeans justas, correntes e pulseiras com espinhos tocando guitarras ultra distorcidas, com uma bateria com ritmo rápido, um baixo penetrante e um vocal gritado. Logo também nos vem à cabeça um bando de loucos que fazem besteiras tanto dentro do palco quanto fora dele. Um bando de drogados sem perspectiva de futuro que mais cedo ou mais tarde poderá morrer de overdose. Outra imagem que também associamos ao heavy metal é de ser exclusivamente masculino. Um estilo com predominância de homens e fechado para as mulheres. Vemos esse estilo como um estilo “musico-cultural” tradicionalista a suas origens. Mas será que o Heavy Metal é apenas isso?

A historiografia brasileira parece ter se fechado para esse novo mundo ainda inexplorado e extremamente vasto até onde se tem noticia. A complexidade de se trabalhar o heavy metal e seus subgêneros musicais não param apenas no tipo de música que se toca, as vestimentas e sua possível “biografia” ou biografia de bandas.  Trabalhos interessantes podem surgir de uma análise mais aprofundada deste tema. Ora, qual outro estilo musical fora capaz de estar presente em todos os cantos do mundo, incluindo países onde este estilo é terminantemente proibido por decreto e ainda sim seus fãs realizam festivais, montam bandas, deixam seus cabelos crescerem, tem acesso aos discos das suas bandas favoritas e lutam contra essa repressão dos estados autoritários? Acredito que no máximo que se tenha chegado perto disso tenha sido a música erudita que ainda sim fica restrita as altas rodas sociais, que diferente do heavy metal, este acaba atingindo justamente as classes mais baixas de proletários e até mesmo de classes mais altas. Não que os eruditos não atinjam também as classes mais baixas, mas em proporção,o heavy metal acaba se tornando um “estilo das massas”. Devemos tomar cuidado com essa nomenclatura, pois não confunda essa denominação com aquelas denominações que se tem para músicas populares como no caso do Brasil tem-se o funk carioca, o axé, sertanejo e outras. O heavy metal mesmo atingindo as classes baixas fica restrito a grupos de fãs que se identificam por uma série de sinais e símbolos quase ritualísticos.

A complexidade de se trabalhar esse estilo musical está também em tentar analisar a religião, a influência social, as ideologias, as formas de trabalho, os diferentes níveis do campo da ciência que acaba se mesclando ao trabalho de inúmeras bandas, as influências em estados autoritários, as classes que o mesmo acaba atingindo e diversos outros pontos interessantes de serem analisado. Os ranços que se tem sobre este mundo as vezes fazem barrar o interesse de inúmeros pesquisadores que tentam voltar parte de suas pesquisas para o heavy metal. E é curioso notar também que o heavy metal não trata-se apenas de uma única tribo urbana, mas em várias outras ramificações que existem para cada subgênero do heavy metal como o death metal, Black metal, thrash metal, symphonic metal e outros.

Enfim, tentarei ao longo de alguns meses trabalhar e elaborar alguns ensaios descompromissados sobre este curioso mundo do Heavy Metal. É um trabalho complexo que exige um gasto de tempo grande, inúmeras leituras complementares para daí sim chegar a 1% de análise deste curioso e inexplorado mundo. Tentarei elaborar alguns ensaios sobre a religião, divisões sociais, gênero (referente à sexualidade), História e historiografia, preconceitos e conceitos. O metal pode ser muito além de uma musica barulhenta para passar para uma temática enigmática e complexa de se trabalhar.